Olha por mim

Shh o silêncio berra-me aos ouvidos
Acho que vem dos esqueletos dentro do guarda-vestidos
A garrafa esvazia a perceção dos meus sentidos
O pensamento finda entre dúvidas e suspiros

Levem o que quiserem deixem-me o quarto vazio
Deixem o cheiro do whiskey se misturar com o bafio
Já não vejo o sol, a pele já não sente frio
O corpo já não sente nada, sou um terreno baldio

Eu vejo a alma, eu vejo escuro eu vejo a luz
Eu vejo o demo, eu vejo Deus vejo Jesus
Eu vejo o fogo do inferno a queimar cruz
São vários corpos amontoados no siteo onde eu os pus

Acalmo e penso bem, no meu terço so tem
Rezas sentidas numa crença que nem crente tem
Acalmo e penso bem, olha por mim amem
Que eu caminho mas destino nunca encontrei

Acalmo e penso bem, no meu terço so tem
Rezas sentidas numa crença que nem crente tem
Acalmo e penso bem, olha por mim amem
Destino eu nunca encontrei

A alma escreve o que sente na tela já só vejo preto
Na tela nunca vi branco, a alma so enxerga o negro
Já não vejo valor naquilo que não tem preço
Sinto-me a tocar o chão não tenho medo do tropeço

O campo em que alma vagueia tem cheiro a jardim pútrido
Quis tanto ser singular que se esqueceu de ser único
Viveu tanto tempo em círculos a roda d'um sonho lúcido
Que se tu mudas o mundo muda, e o meu? é o mesmo há anos

Fui arquiteto de planos, mas estrutura era flácida
Lutei com a fé das orações de mil crentes em Fátima
Como manténs a sanidade se a realidade é lástima?
Nunca me senti em casa minha alma é apátrida

Eu vi o metal da foice da morte eu tive-o comigo
E o peso, da dor da perda eu suportei-o sozinho
Não é medo, de não ser materia e de me tornar em pó
É saber quem tinha o vírus que ceifou a minha avo

Acalmo e penso bem, no meu terço so tem
Rezas sentidas numa crença que nem crente tem
Acalmo e penso bem, olha por mim amem
Que eu caminho mas destino nunca encontrei

Acalmo e penso bem, no meu terço so tem
Rezas sentidas numa crença que nem crente tem
Acalmo e penso bem, olha por mim amem
Destino eu nunca encontrei