Converso Com os Mortos

Eu vejo gente morta
Não sabem que 'tão mortos
Com que frequência?
Todo o tempo

Eu tenho o dom de falar com os mortos
E os mortos também têm o dom de me ouvir
Dentro da cadeia, até o Bruce Willis
Ficou assustado com os corpos que eu vi

Os corpos que eu falo vêm decapitados
É o sexto sentido, a sete palmos do quinto do inferno
Poucos são salvos
Os meus versos são salmos que são recitados

Alguns quando ouvem são ressuscitados
Alguns morrem livres, vivia trancado
Uns são mortos-vivos e ainda não sabem
Vários homicídios, somos homo sapiens

Vários se foi sem mensagem na lápide
E se viu mortos foi só no seu tapete
Eu falo com os mortos, eu vivo com os mortos
São vários corpos que eu fiz no fatality

Sexta-feira, o 13
Mano, esqueceu de fazer o react
Mas se quer o laudo da autópsia
Dos MC, loki', então me contate
Favela aplaude

Vivo perdido em busca de almas penadas
Igual ao holograma
A Bruxa de Blair quando viu o Fler
Chupou e nem cobrou o programa

Atendi o telefone, era o chamado
Aproveitei e mandei o recado
Depois disso ele não retornou
E quando eu chamo só dá ocupado

Liguei o Marighella
Chamou o escadinha até o Bin Laden
Esquema bolado
Tudo preparado pra invadir o planalto
Os homem-bomba explodindo o Senado

Os 500 mil que morreu de covid
Se quiser voltar vai ficar embaçado
Fogo do inferno em brasa
Não tô sozinho, tô com o Brazza
Cês vai pro outro lado

Um dia os mortos reúnem os vivos
E faz a pergunta aos desencarnados
E se na real a vida é depois
E nós é que somos os finados?

Eu falo com os mortos desde que nasci
Acredite, mano, eles estão aqui
No meio de nós, mais vivos que muitos de nós
Não estamos sós, posso sentir

Eu falo com os mortos desde que nasci
Acredite, mano, eles estão aqui
Eu ouço uma voz, tem vida após
Ou esses somos nós depois de partir?

Cansei de psicografar com Chico Xavier
Bolei um plano mais pesado
E chamei logo o Mano Fler
Fodeu, seja o que Deus quiser
Venha quem vier

Do mundo das trevas, das celas, das selvas
Das sombras da morte, até Lúcifer
Mas vem preparado que é pra assaltar carro-forte
E devolver pra quem não tiver

Espera pra ver que desde menino
A caneta é o brinquedo assassino
E os filho da P que roubam nosso estado eu miro
E brinco de jogos mortais

E o final vai ser mais triste que Black Mirror
E os black hero que nem Fred Hampton e Malcolm Little
Vão voltar sedentos pra cobrar
Os porco maldito que deram os tiros

Quer saber onde tá o Chuck Norris e o MacGyver?
Abre o meu porta-malas e vai ver o cadáver
Convoco o Big, o Pac e o Sabota pro Cypher
Ressuscito até o sonho de Martin Luther

E se preciso, invado seu sonho igual Freddy Krueger
E mato os pilantra igual Edgar Hoover
Geral tá com medo de nós, até Lúcifer

Sou brasa, não tenho medo do fogo
O inferno é minha casa
Cortei a asa de um anjo e coloquei na minha escápula
E eu tô cheio de mácula
E eu tô cheio de raiva desses crápulas

E se não existe lei no magistério
Justiça no ministério
Chamei meus amigos pra colar
E o bagulho ficou sério

É o Frankenstein e o Drácula
Vindo direto do cemitério
Vou cavar um buraco lá
E depois te taco lá

E os mortos nos dizem
Aproveite enquanto há tempo
Aqui estamos esperando sua partida
Mas quem pensa muito em vida após morte
Se esquece que também existe morte enquanto há vida

Os mortos são meus amigos
Eles falam comigo
E você, quando morrer
Será que os vivos vão falar contigo?

Eu falo com os mortos desde que nasci
Acredite, mano, eles estão aqui
No meio de nós, mais vivos que muitos de nós
Não estamos sós, posso sentir

Eu falo com os mortos desde que nasci
Acredite, mano, eles estão aqui
Eu ouço uma voz, tem vida após
Ou esses somos nós depois de partir?



Credits
Writer(s): Fabio Reboucas De Azeredo, Pedro Lotto, Caio Paiva, Daniel Colombo Tatit, Mano Fler
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